M.
M. é uma mulher muito inteligente, ela diz que seu maior objetivo é "chegar ao topo e ficar lá". M. se dedica à tudo que faz e não se importa de pisar em algumas pessoas no caminho para o topo. Quando ela conhece gente nova, ela normalmente fala sobre suas conquistas, que impressionam alguns e afastam outros. M. tem pouca compaixão por si mesma e pouca por outros. O maior e mais temido segredo que ela guarda é que ela se torne uma ninguém.
B.
B. vive uma vida de contradição. É amado por muito mas sente que não merece o amor. Por fora, ele parece completo, por dentro, sente-se vazio. B. se dá bem no trabalho, mas nunca se sente com sucesso. Tem bastante compaixão por outros, mas não por si. Seu maior e mais temido segredo guardado é que ele se sente único, mas cheio de falhas.
M. tem desordem de personalidade narcisista e B. convive com efeitos de negligência emocional infantil. Eles parecem diferentes, o que ambos poderiam ter em comum?
Pessoas como B. tendem a parecer o oposto do narcisista.
Pessoas que cresceram com suas emoções sendo ignoradas tendem a pensar pouco em si. Eles tem muito dificuldade em dizer "não" para outros, pedir ajudas e depender dos outros. Eles não estão atentos às suas próprias preferências e necessidades, eles tendem a seguir os pensamentos dos outros.
Os que crescem com sentindo-se invisível preferem continuar sendo invisíveis quando adultas, porém eles têm uma necessidade, e muito humana, vontade de serem vistos.
Por outro lado, pessoas como M, narcisistas, precisam sempre trazer tudo para o seu lado e tem uma tremenda tendência a chamar atenção para si. Por sua falta de compaixão por outros, é fácil colocar suas necessidades antes das dos outros.
Pessoas como B. sentem-se desconfortáveis sob a luz, pessoas como M. sentem-se desconfortáveis fora dela.
O impressionante é que ambos os problemas surgem de uma mesma raiz: problemas na infância. A diferença é que, mesmo ambos sentimentos tendo sido ignorados, os de M. provavelmente foram punidos.
A criança negligenciada emocionalmente cresce sem ser vista ou ouvida. Mesmo que os pais amem e tenham carinho, é de forma genérica e não especial. Talvez não tenha havido abuso ou dureza, apenas um vácuo emocional.
O narcisista é aquela criança que teve, além da negligência, a invalidez ativa de seus pensamentos.
Ninguém notava B. quando ele chegava em casa triste e com medo do que aconteceu no colégio. Ele então entendia que deveria se virar sozinho, e ele fez.
Ninguém notava quando M. sofria, também. Mas quando ela chegava em casa triste sua mãe mandava ela para o quarto até parar de chorar.
B. passava ignorado nas festas de família.
M. era mostrada como um troféu pelos pais, e logo também ignorada. Certa vez, na adolescência, ela resolve não se arrumar tanto para a festa de família e seus pais surtaram, repetindo que ela não queria fazer eles sentirem orgulho, depois sequer falaram com ela durante a festa.
A infância de B. entendeu que seus sentimentos não importava. Então ele os oprimiu e perdeu seu acesso. Ele vive a vida adulta sem conexão, estímulo e informação própria. Essa é a sua "falha", a falha que ele não consegue explicar.
M. vive a vida perante um medo terrível, o medo de não ser notada. "Olhem para mim" é o que ela diz em cada palavra e to. "Eu importo!" M. só sente-se bem quando tem alguém olhando.
B. e M. são diferentes, mas dividem o mesmo coração:
Vazios.
Sozinhos.
Sem razão.
Escondidos.
Como eles se recuperam?
Seus caminhos para isso compartilham partes da mesma trilha. B. precisa aceitar a causa de suas dificuldades: a dolorosa verdade de que seus pais falharam. Precisa reconhecer que a falha não está em si agora, mas nos seus pais do passado e precisa passar pelo processo de aceitar suas emoções como válidas, aprender a ouvir sua própria voz. Só então ele vai se permitir ser amado e amar. Só então perceberá que ele importa.
M. tem um caminho mais longo e complexo. Ela precisa fazer o que o B. fez e ainda perceber que a atenção que ela busca é o que machuca ela. A verdadeira M. não precisa da atenção, ela apenas precisa de seus verdadeiros sentimentos e emoções, aqueles que ela desviou na infância.
Ela precisa perceber que os seus sentimentos são tão válidos e verdadeiros quanto outros, ela precisa entender o que é a culpa quando machuca os outros. Precisa entender que ser admirada não é o mesmo que ser amada, e não há amor apenas por estar sob o holofote.
Quando mas ambos percebem que merecem algo melhor, mas perceberão que é possível.
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