"A verdade está lá fora".
É comum a pressuposição de que há um fora, e de que na existência desse fora, em um espaço objetivo, seria o que é de fato real.
O problema é que isso é nada mais que um chute. Um chute sobre a realidade. É claro que parece um chute forte. Eis outro modo de olhar ao problema darwiniano. Parte da razão da insistência em que mutação aleatória é a fonte da sobrevivência continua, erroneamente tratada como progresso (e que nos leva a crer que somos também o topo da civilização, outro erro) é que o ambiente, não apenas o agente, muda de forma imprevisível por sua essência natural.
Sendo imprevisível somente a transformação aleatória pode manter-se viva.
Com sorte, a aleatoriedade das mudanças do ambiente combinará com a aleatoriedade das mudanças genéticas. Isso quer dizer, em parte, que o ambiente é incompreensível por ser imprevisível.
Isso significa, também, que uma limitada criatura que se estabelece pelos meios Darwinianos não pode ter acesso a verdade, não a verdade plena, apenas acesso a uma parte da verdade, a verdade suficiente, a verdade necessária para manter-se viva.
A verdade suficiente que permite a interação de sobrevivência e reprodução.
De uma perspectiva Darwiniana, não há verdade superior a isso, eis o limite da verdade.
Dawkins, por outro lado, então, não pode ser tratado com Darwiniano, eis aí um Newtoniano que acredita que há uma verdade plena. Darwinistas por definição não acreditam nisso, dizem: não, há apenas verdade suficiente para te manter vivo e sobreviver, isso é tudo, e eventualmente essa verdade se esvai, afinal, 99% das espécies se extinguem.
Assim, tendo duas perspectivas que não se misturam como água e óleo correntes na ciência moderna, é como se assumíssemos dois mundos diferentes ao mesmo tempo. Vivemos em dois mundos.
Internalizamos a condição evolucionaria como uma grande parcela de como entendemos a realidade. Mas ao mesmo tempo nos prendemos a noção de que há uma verdade além de nossa experiência subjetiva humana.
A ciência é reducionista, quando nós precisamos medir algo com precisão obrigatoriamente precisamos deixar de lado uma vasta quantidade de coisas, ignorar o resto para enxergar o algo. E assumimos que o conhecimento que ganhamos a partir dessa mensuração precisa não é afetado pela negativa de todo o resto. É o conhecimento através da ignorância. Isso é uma afirmação válida? Depende das tuas condições de validez. Então se ganha precisão conforme se perde o resto.
A proposta Darwiniana, pragmática, é de que as coisas são sempre verdade suficiente.
E isso não é porque te falta conhecimento, mas é pelo fato de que não há em ti capacidade de possuir o conhecimento todo, nem hipoteticamente, há limitações naturais.
O conhecimento só seria possível de ser adquirido se rodasse uma simulação tão complexa quanto o próprio mundo per se. E ainda assim não conseguiríamos todas as respostas, toda a verdade, há a probabilidade inclusive de sequer chegarmos ao ponto em que estamos. Tendo um sistema precisamente idêntico, impossível, improvável, como Kurt Godel: qualquer replica do sistema é fadada a ser uma versão mais simples.
Dada as limitações daquele que percebe, que tenta entender a si mesmo, por natureza incapaz de entender o todo, imitação essa impossível. Ainda mais levando em consideração a perspectiva Darwinista de que qualquer percepção adquirida do sistema muda não só quem percebe mas o próprio sistema em si. É como tentar prever o mercado de ações. A própria interação daquele que tenta prever racionalmente modifica todo o cenário mercadológico.
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